segunda-feira, 23 de março de 2009

O DESCANSO DE DEUS E A OPA DO CÉU


1. Pelas paróquias dos simples
muitos dos novos apóstolos
apregoam a contenção a água da torneira
mas não se cansam de beber
vinhos-prime das melhores colheitas.

O mercado é genialmente formatado
por providenciais deuses-gestores
e a verdade aceita-se não se questiona.
Quanto mais liberalismo melhor.

2. Pelo que dizem do Reino do Paraíso
a eternidade não começa nem acaba
com a primeira democracia e o postulado
do novíssimo testamento mais virgem
e mais sagrado da economia perfeita
liderada pelo CA da sociedade anónima.

Se assim fosse seria de esperar uma OPA
hostil e com o céu privatizado
os accionistas de referência
donos disto tudo teriam a garantia
da felicidade eterna ficando as outras alminhas
todas à porta à espera do TGV
para o purgatório ou o inferno. Safa!

3. Que pena não saber escrever
textos poéticos refazendo artigos de jornal
com as metáforas do futebol e rimar
alquímia financeira com engenharia estatal
capitalização bolsista com a demagogia social
esperar uma bom prato e ser eleito do povo.

4. Até Deus que é Deus Pai de todos os deuses
à semelhança dos homens que o sonharam
de tanto trabalhar se cansou
e ao sétimo dia já depois de ter criado Adão
- a tentação original do prazer e do pecado -
Deus descansou. Porque a Deus o que é de deus
e a César o que é de césar. Recordo.

5. Por fim em nome de Cristo o poema de Villon*
a diluir na lava as imagens proibidas
pela inquisição castradora da Santa Igreja.
Um boi morto sacrificado como se carneiro
no ritmo do jogo da roleta do casino

nos sabonetes ensaboados da escalada
aos corpos às arreatas do macho
- o traseiro belo e peludo da fêmea.

A nós que somos burros ibéricos de estimação
conforta saber que foi montado num burro
que Jesus entrou na cidade santa de Jerusalém.

* “Je suis pecheur, je le sçay bien;
Pourtant ne veult pas Dieu ma mort
Mais convertisse et vive en bien”

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