segunda-feira, 23 de março de 2009

AS PEDRAS DO TALLER LITERÁRIO


1. Tenho uma pequena pedra polida
no fogão-de-sala da minha casa
onde está escrito kő-kurá
oferta do Carlos aliás Tito Rodríguez
na festa surpresa dos meus 50 anos.

Com amigos fiz parte de um taller literário
camaradas exilados do Chile um do Uruguai
e um irmão do Perú. Ali era o único
latino que representava um outro idioma.

Kő-Kurá e uma revista com o mesmo nome
pedra em húngaro e adaptação
fonética de pedra em mapuche.
Tito era a alma do taller e o tipógrafo!

2. Repeti mil vezes depois do sonho
da ousadia e alguma libertinagem
antes do amor abraçar outros ventos
madrugadas intensas que não queria
partilhar-me com a poesia
com a ilusão de não ser imortal.

É tarde demais eu sei
mas tenho de confessar
sempre que me encontro
nas palavras que escrevo
nas metáforas que recolho
deixo aberto todo o meu coração.
O desejo mais intímo foi esse
era de ter sido apenas poeta.

3. Era assim tu vinhas descalça
e começavas a despertar me lentamente
sem eu saber a sonhar contigo
que não tinha fechado a porta do quarto
que fazias com o dedo en tus labios rojos.

Sinal para não fazer barulho
para não despertar a cobiça dos vizinhos
a suspeita do novio tan buena gente.

Era assim eu comia te sem têmperos
tu mais adulta mais vivida comias me
e acabávamos tremendo de frio com medo
de não haver futuro nem cheiro a alho e hortelã.

Incenso e alecrim a arder no quarto
de saudade com a porta fechada por dentro
e a escuridão permanente da tua ausência.

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