segunda-feira, 23 de março de 2009

HAVANA FIDEL E O ANTIGO TESTAMENTO


1. Havia um pano
que pendia da fachada
de uma velha casa renovada
restaurada para a revolução
pintada de muito cor-de-rosa
devia ser na Havana antiga.

Eu sentado em frente do ecrã
à espera do jantar colectivo 
no apartamento do Baleal
no dia 13 de Agosto de 2006.

Um pano onde se lia
Viva Fidel 80 más!

2. Ainda que o desejo se cumpra
mesmo assim não chega às sandálias
dos Profetas do Antigo Testamento
mais maduros e mais vintage
como Matusalém que viveu até aos 995 anos
contados com a tabuada da época
e Noé que foi pai com a idade de meio milénio.

Por vintage não sei se Catherine terá tido
algum affaire com o sedutor Fidel.

Sei que com o aproximar do fim
não basta afirmar que é o ópio do povo
acreditar nos milagres de Deus
se é da cocaína acreditar na eternidade
nas profecias dos Profetas
na hora em que se volta a ser cinza
que o vento espalha pelo vermelho dos céus.

3. O Comandante do assalto ao Moncada
da aventura da Sierra e da entrada triunfal
em Havana no Primeiro de Janeiro.

O Fidel Castro do mundo que veio a seguir
- sempre são 50 anos não são cinco dias -
o general com o seu uniforma garbo-rigoroso
das tentativas falhadas da CIA
da medicina e da educação para todos
do el Paredón e a prisão de tantos
apareceu várias vezes jovem barbudo
vestido de revolucionário de verde oliva.

4. Lembrei-me de novo das azeitonas
quando andava no rabisco
com a minha mãe e a minha avó
como as levavam ao lagar
os garrafões na loja de terra batida
a amentolia de onde o azeite escorria
que me fazia recordar os mouros míticos
que me faz lembrar as histórias da Bíblia
contadas aos domingos na catequese.

5. Recuperei da memória partes de um texto
com quase 30 anos – teria Fidel 50.

- Não não é o grelo oleado da Clarisse
que podia ter sido a primeira namorada
da minha vida mas preferiu o Zé Adrião.

São os grelos tenrinhos bem azeitados
escolhidos um a um pela ti’Alice
entre potes de azeite barris de água-pé
e alguidares com bacalhau demolhado.

É o erotismo molhado e comido a dois.
no pratinho azul riscado do pão de milho

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