segunda-feira, 23 de março de 2009

A MINHA CIDADE E OUTRAS HISTÓRIAS

    
1. Tenho tanto para fazer
que não me chegam nem as noites.
Três filhas para acompanhar ao altar.
Um filho last-minute com quem aprendo a ser
bombeiro mecânico de automóveis e limpa-chaminés
canalizador fura-paredes de berbequim em punho.
Tanto para fazer que nem tempo tenho de morrer.

Nesta Budapeste-amante cidade dos meus amores
e também de muita desilusão lá em casa já sabem
que um dia quando acabar que metade das cinzas
seja lançada ao Danúbio e a outra metade
espalhada pelo mar da Nazaré perto das areias
ondei dei os primeiros passos da minha vida
que partida fluvial do destino me fez recriar.
Chegar a outro cais tão longe do mar de Pessoa.

2. Fresca e formosa fazia como se fosse tímida
caminhava servia entre as mesas
como quem sózinha dançava o mundo
sorria e dançava como servia.
Entre fumo e mesas parecia ela se refrescava.

Teresa empregada de mesa
fugia da exclusão urbana
na grande cidade onde nasceu
orfã precoce de mãe solteira
casou-se jovem sem boda
entre a sede de pertencer
no milagre do primeiro amor
e a fome partilhada dos tapetes 
que sentia serem seus
na desejo de ser feliz.

Já depois do fecho fumou o primeiro cigarro
do dia seguinte limpava o balcão e as mesas
arrumava as cadeiras com pressa de ir para casa.
O patrão não descansava a mulher desconfiava.

3. Há uns anos atrás por causa
do negócio das telecomunicaçôes
de visita a Budapeste conheci László.

Português com cabelos brancos húngaros
mais que os meus de um húngaro que fala melhor
a língua de Camões que a língua do pai
apoiante convicto da monarquia
e origem na antiga aristocracia magyar.

Bem eu que nasci humilde numa pequena aldeia
do Ribatejo revolucionário quando jovem
ganhei o hábito de a 5 de Outubro lhe esccrever
por e-mail Viva a República!

Racionalmente nenhuma premissa indicaria
mas é por não sermos blackberry computador
sem coração sem sentimentos e sem razão
que partilho uma bela amizade com o László.

4. Tributo aos Hubay:

Lembrar a porcelana antiga de saber
as saudades do pai peregrino da tarde
aceitar a sorte e o destino viver
dessa linda metáfora do vento norte.

A viagem do amor com final feliz
no fogo perene da neve do seu país.
E a paixão se fez rei se fez princesa
milagre de vida Ó rosa portuguesa!

De barcos e ilhas pátrias e mitos
campos de milho searas de trigo do pão
celeiro do império altar dos povos
mãos de pedra nas memórias da solidão.

Secreta a alegria na sedução primeira.
Sim na tentação da luz do vosso olhar!
Sabem há festa na quinta da ribeira
das acácias com junquilhos a cantar.

Diz aos filhos do jardim magiar
do palácio antigo da família junto ao rio
e leva a boa nova de ser deste povo
cantar neste mar os fados por inventar.

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