sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

RÉPTEIS

Nagy Imre, Hungria, 1956.
Salvador Allende, Chile, 1973
.

O réptil silvava todos os dias à mesma hora
acompanhado pelo protesto dos outros mamíferos
que aquela hora da tarde ainda dormiam
submersos na água lenta e quase choca
que invadia as hortas e os tomatais
as cercas vigiadas dos puros sangue
os viveiros de ostras e corais do capital estrangeiro.

Aqui e ali vozes descrentes pássaros perdidos
portas fechadas de festas de guerras adiadas
o fogo das palavras e os cavalos de corrida.
No último dia da luz segundo a religião
professada pelo grande manitú da cidade
a planície e as minas afundaram-se dois metros
e o réptil não mudou de pele nem nunca mais silvou.

Partes do seu corpo apareceram espalhados
pelas bermas dos caminhos em locais ermos
com vestígios recentes de terem sido alimento
e estrume dos outros répteis ou mamíferos
de quem tinha sido professor único mestre
e de muitos verdadeiro pai. Implacável inimigo.

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