sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

PARÁGRAFOS DO CORPO

É para ti Gabi

A língua lentamente
afasta os dentes descarta a ajuda
misteriosa e voluntária
quer ser única
sem música sem silêncio
sem testemunhas oculares.
A língua alonga-se enrosca-se
e alonga-se outra vez
desliza e rasteja avança
dividida como uma serpente
lentamente lentamente.

Contorna uma a uma as letras
solta as linhas as raízes
os parágrafos do corpo.
Penteia e despenteia
os conteúdos do vinho
as formas do corpo
a substância mineral saborosa
e sedativa do fundo do mar
a substância artesanal do enjoo
da volúpia da vertigem
quer ele dizer: dos corpos.

Nua e exposta no largo
no terreiro da aldeia
nua e soalheira
no pasto das ovelhas.
O comichão os arrepios
das pernas picadas
as formigas do prazer.
Nua e indefesa no alpendre
no terraço da casa do seu corpo
ao cair da noite – lentamente
lentamente
lentamente.

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