quinta-feira, 20 de março de 2025

Ficaram as saudades

 

Estava depois dos cinquenta, sentia-me bem, achava-me bonita 

não tinha pressa em ser idosa antes de tempo quando solidária

a vida me ofereceu mais uma prenda, uma nova oportunidade. 

Deu-me a conhecer um homem com um H grande.

 

Era mais velho uns bons anos, mas com uma pedalada. 

- Se fosse ciclismo seria o portador do maillot jaune du Tour.

Os nossos encontros eram como se fossem cronometrados 

tínhamos três horas à disposição até o meu marido voltar. 

Três que sabiam a trinta e resgatavam todos os meus sonhos 

que sabiam a pouco tal a intensidade, o ritmo do seu pedalar. 

 

Se aprendi tanto com ele no amor, que dizer da sua sabedoria? 

Abriu-me a cabeça como ninguém antes dele tinha feito. 

Como ele me transmitiu saber, cultura e filosofia! 

Eu tinha a sensação clara de que ele sabia tudo e de tudo. 

O meu mestre na cama, na cultura e no conhecimento.

 

Numa das nossas tardes de paixão por ciúmes infundados 

decidiu castigar-me, deixou-me pendurada e não apareceu.

Eu estava à sua espera com a minha lingerie mais ousada

de mulher que sabe o que quer, para o excitar ainda mais. 

 

Sem ele a casa ficou vazia e a tarde vestida de solidão.

Devido ao meu orgulho ferido não nos voltamos a encontrar. 

Ficaram as saudades e o seu lugar cativo no meu coração. 

Se um dia de surpresa bater à minha porta vou deixá-lo entrar.


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