Para continuar os estudos deixei a aldeia e fui para a
cidade
para um quarto alugado com uma prima da minha idade.
Vivia pertinho do liceu e de uns velhos amigos dos meus
pais
de quem, em toda a minha meninice, apenas ouvi dizer bem
do prestígio, ele advogado e ela médica, um exemplo a
seguir.
As poucas vezes que os vi guardei a imagem de um par
perfeito
de um casal muito bonito e alegre, de gente culta e simples.
Como criança pensei "quando for grande quero ser como
eles".
Várias vezes me convidaram a lanchar em casa deles
e depois para ir estudar e fazer os trabalhos de casa
porque lá estava mais sossegada e concentrada.
Estudava primeiro na cozinha e depois na biblioteca.
Foi ali que os meus jovens pensamentos voaram, sentia-me atraída
pelos seus cabelos grisalhos, o sorriso aberto, a sua voz
melodiosa.
O sentimento crescia em mim, em demasia para a tenra idade
e apesar de não ter ideia nem noção do que poderia vir
a seguir
na minha imaginação via que os meus sonhos eram apreciados.
Estava escrito, as coisas aconteceram como tinham de
acontecer.
No divã, entre livros, deixei de ser menina e tornei-me uma mulher.
Apesar dos seus remorsos, ali ou no meu quarto continuamos
a fazer.
Foi com ele e as nossas tardes que depois da dor descobri o
prazer.
Por falta de cuidado como quase sempre acontece, fomos
apanhados
e para evitar males maiores eu tive de mudar de terra, mudar
de ares.
O escândalo foi discretamente abafado. Foi por isso que
eu emigrei.
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