Nos primeiros meses da minha emigração o meu trabalho
foi tomar conta de uma menina pequenina enquanto os
pais
trabalhavam, saíam ou estavam em casa, mas sem tempo
para se ocuparem com a filha. Eram os dois arquitectos
e viviam numa das melhores zonas dos subúrbios da
capital.
Eu era uma miúda acabada de chegar, uma moça ingénua
mas estava cheia de vontade de me integrar e de aprender
a ser moderna, eu que vinha de um meio
tão pequeno
e tão atrasado em relação àquela
cidade tão cosmopolita.
Sentia-me deslocada e insegura, mas nunca tive jeito
para baixar a cabeça, esconder os olhos e talvez
por isso
o senhor arquitecto começou a olhar-me com mais
atenção
e com os cuidados devidos, os olhos foram conversando.
O meu quarto era no rés do chão ao lado da sala do duche
e numa manhã enganou-se na porta e entrou no meu quarto.
Fechou-a atrás de si, pôs o dedo na boca e sorriu-me
cúmplice
como quem diz, não digas nada, não faço mal, não tenhas
medo.
Aproximou-se da minha cama e começou a acariciar-me
a beijar-me o cabelo, a boca, a descer pela minha pele
com os dedos, com as mãos e eu sem saber o que fazer.
Estava toda arrepiada e excitada, gostava, mas tinha medo
com um sentimento estranho do que estava a acontecer comigo.
Nem perguntou se podia, mas recebi-o com um suspiro
contido.
Fez-me sinal que não podia gritar ou gemer em voz alta
para não acordar a esposa, haver confusão e ficar
zangada.
Foi assim muito tempo. Eram poucas as manhãs
que em silêncio não viesse tomar o duche ao meu quarto.
Com o que sei hoje estou convencida que a mulher
sabia
o incentivava a continuar e talvez desejasse
participar
- Teria sido aquilo que os franceses chamam ménage à trois
mas acabou por não dar esse passo, não me quiseram assustar.
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