quarta-feira, 19 de março de 2025

Születik a Vers (Nasce o Poema) Em memória de Hajnal László

 

Születik a Vers (Nasce o Poema)
Em memória de Hajnal László (Grün László)  1902 - 1943

Hajnal László foi jornalista, em jornais como Magyar Szó (Palavra Húngara),
Zsidó Jövö (Futuro Judeu) e na revista erótica Fekete Macska (Gato Preto).

Velho companheiro, com o Gato Preto vieram-me à cabeça
outros gatos, outras gatas nocturnas, outras épocas… 

Por exemplo, no início dos anos oitenta do século passado
em Budapeste, numa esquina perto da residência da rua Ráday
havia um bar chamado Fekete Macska. Eu era um törzsvendég.
Como estava perto da cama, podia abusar e abusei muitas vezes.  

Foi ali entre canecas de cerveja e copinhos de aguardente 
que comecei a série do Gato Preto. No verão seguinte 
o Zetho convenceu-me a publicar em edição para amigos. 

Como não encontro o único exemplar que tinha dos 50
editados por uma tipografia de Almeirim, vou tentar de cabeça  
reinventar um dos 13 textos que compunham a plaquete. 

A senhora por volta dos quarenta, de calças apertadas caminhava pela rua. 
Na cidade não havia ninguém que soubesse apresentar uma dança moderna 
como ela, a dança indiscreta das ancas e das nádegas pelos declives da calçada.   
Os homens nem reação ou verbo tinham, ficavam sentados a observar 
e a imaginar outros bailes e outras festas populares, outros arraiais.

Era tão fogosa que com medo de se queimar, ficar com os dedos esturricados
não havia alma que se chegasse à frente, que atravessasse a ponte da fortaleza.
Quem ganhava com a falta de coragem era o bichano, o gato preto da casa
habituado que estava não a caçar ratos ou pardais, mas a dormir sobressaltado 
na borralha da cinza quente e morna, quentes e boas, entre as coxas da dona.      

Hajnal László publicou poesia, prosa, peças de teatro e crítica literária.

Születik a vers
Ilyenkor tárjuk fel a mellünk,
A napsugárt szívjuk le mélyre
Kitárt két karral ünnepeljünk,
Mert az isten született bennünk,
Dobjunk el minden földit félre,
Mert elindult felénk a Vers...!

Nasce o poema
É chegado o tempo de abrir o peito
Deixar o sol descer até ao fundo,
Festejar de braços abertos,
Porque Deus nasceu em nós,
Deixemos de lado todas as coisas terrenas
Porque o Poema vem ao nosso encontro...!

Nasceu no último dia do ano, 2 depois da madrugada do século XX e em janeiro de 1943,
desapareceu como "munkaszolgálat" (recruta forçado sem armas) na Frente Oriental, na
URSS. Não se sabe onde nem exatamente quando, como judeu-carne para canhão,
desarmado, esfomeado e muitas vezes espancado só porque lhes apetecia.

O munkaszolgálat foi uma instituição militar especial criada e mantida na Hungria durante
a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto. Era um “serviço” de guerra realizado nas forças
armadas e unidades militares, mas sem armas e exclusivamente sob a forma de trabalhos
forçados. Normalmente nos combates iam à frente dos soldados do exército húngaro.

Budapeste, 2 de março de 2025

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