Tributo a Kertész Imre (1929 - 2016)
Aos seus livros, incluídos os que eu não li.
Texto poético dedicado a Ernesto Rodrigues com o seu
extraordinário livro “Hungarica” à mão de semear.
Kertész
leszek fát nevelek (József Attila)
Jardineiro serei as árvores cuidarei.
Retiro uma a uma as pedras do Coração
com elas enfeito e decoro o nosso jardim
e protejo a velha árvore da nossa Paixão
desse Amor que para sempre ficou em mim.
Do tempo em que menino a literatura degenerada
andou a sofrer e a arrastar-se pelo Sorstalanság
Sem Destino a morrer por Auschwitz e Buchenwald.
O poema cheira a água do riacho do seu ventre
mas como eu não fui prisioneiro nem sou sobrevivente
não associo o cabelo rapado à falta de um pente.
Navego somente do meu sonho até à sua nascente.
Vegsö kocsma - a última tasca da última estação do comboio.
- Dos vagões de gado para o matadouro do destino marcado -
A estação sem regresso ou se há regresso é porque o milagre
existe.
Não haja ilusões ou ingenuidade mimada pela celebrada
libertação.
Totalitarismo rima com submissão, com obediência e
capitulação
e provavelmente só se pode vencer se derrotado por outro
totalitarismo.
Mais forte, cínico e enganador com nós a fazer uso
cartesiano do optimismo.
Budapeste, 7 de março de 2025
Passei alguns meses na preparação e seleção dos escritores: 6
mártires do Holocausto Húngaro e 1 sobrevivente. Escrevi os 7 textos nos
primeiros 7 dias de março de 2025.
Budapeste, 8 de março de 2025
Sem comentários:
Enviar um comentário