Carta-Tributo ao Professor Szerb Antal
(1901 – 1945)
Mensagem para aqueles que por mero acaso venham a ler esta
carta sobre
a intolerância, a discriminação e o racismo assassino e que
na minha opinião
continua mais actual do que seria racionalmente
aceitável. Oxalá esteja enganado.
Prezado Senhor Professor
Se lhe dá alegria, gostaria que soubesse que aqui,
mesmo morto
mesmo ausente, continua presente e é mais consultado
do que a maioria dos seus compatriotas contemporâneos.
Sim eu sei das 3 leis anti-semitas, como os fascistas
húngaros o trataram
como o perseguiram, como o proibiram de ensinar, de
publicar, de viver
como o internaram no campo de trabalho forçado de Balf,
como o assassinaram quando de tão enfraquecido já não
rendia.
Mataram-no à coronhada no dia 27 de janeiro de 1945
quando era evidente que a guerra estava perdida
para a Alemanha nazi e seus aliados.
No dia da libertação pelo Exército Vermelho do campo de
concentração de Auschwitz
e hoje Dia Internacional das Vítimas do Holocausto.
Um dos muitos exemplos das tragédias húngaras do século XX.
Apesar de ser muito religioso - nascido judeu, mas católico
convicto -
o jovem Antal amou como se não houvesse nem um
minuto a perder.
Nem sempre foi bem-sucedido, mas tal não o fazia
desistir.
Com Klára, a segunda mulher, encontrou o seu próprio
romance,
Aquela que foi a sua companheira até ao último dia da sua
vida.
Excerto de um soneto escrito com 22 anos para uma colega de
universidade.
Como ela não lhe correspondia, casou-se com a irmã 5 anos
mais nova
(casaram e divorciaram-se 2 vezes).
A távolságot szeretem miköztünk. (...)
Te meg én, világ két sarkából jövők,
a testünk más – szőke a
Te hajad,
a vérünk más – az enyém nyugtalan
s integetnek idegen jövők –
a vágyunk mégis egyfelé halad
(Részlet:
Violaine-szonett), 1923
Gosto da distância entre nós. (...)
Tu e eu, vindos de dois cantos do mundo,
os nossos corpos são diferentes - o teu cabelo é loiro,
o nosso sangue é diferente - o meu é inquieto
e acenam futuros estranhos -
mas o nosso desejo vai na mesma direção.
(Excerto: Soneto de Violaine), 1923
Permita-me a minha resposta, a minha interpretação:
Para sabermos dar valor ao preço da vida (do amor partilhado
com a dor)
à ansiedade virtuosa de quando moramos na mesma casa
à exaltação da emoção quando dormimos na mesma cama
e à intensidade da sedução quando habitamos um no
outro.
No mundo das nossas vidas (da ternura partilhada com
amargura)
a distância é o selo de garantia dos domingos do nosso
Amor
o certificado fugaz e provisório das frias manhãs e tarde
perdidas
dos cinzentos dias da semana em que nada mais
acontece.
Em nós a distância com desencontro e ausência, mas sem
esquecimento
é nosso refúgio, o melhor do nosso ninho, a flor da
madrugada, a luz do luar.
Para nós a distância é o caminho que nos leva ao teu, ao
meu, ao nosso destino.
Szerb Antal foi uma das principais personalidades
da literatura húngara do século XX. Nasceu em Budapeste a 1 de maio de
1901 numa família de judeus convertidos ao catolicismo. Com uma grande
apetência para os idiomas rapidamente se destacou como escritor, tradutor
e historiador da literatura. Estudou alemão e inglês na Universidade e
obteve o doutoramento em 1924, com apenas 23 anos. Viveu em França, Itália e
Inglaterra. Regressou em 1933 e foi eleito presidente da Academia de
Literatura Húngara. Em 1937 tornou-se professor de literatura na Universidade
de Szeged - ano em que publicou a sua obra mais famosa “Viajante à Luz da
Lua”.
Budapeste, 6 de março de 2025
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