quarta-feira, 19 de março de 2025

Carta-Tributo ao Professor Szerb Antal (1901 – 1945)

 

Carta-Tributo ao Professor Szerb Antal

(1901 – 1945) 

 

Mensagem para aqueles que por mero acaso venham a ler esta carta sobre

a intolerância, a discriminação e o racismo assassino e que na minha opinião

continua mais actual do que seria racionalmente aceitável. Oxalá esteja enganado.

 

Prezado Senhor Professor 

Se lhe dá alegria, gostaria que soubesse que aqui, mesmo morto

mesmo ausente, continua presente e é mais consultado

do que a maioria dos seus compatriotas contemporâneos.

 

Sim eu sei das 3 leis anti-semitas, como os fascistas húngaros o trataram

como o perseguiram, como o proibiram de ensinar, de publicar, de viver

como o internaram no campo de trabalho forçado de Balf,

como o assassinaram quando de tão enfraquecido já não rendia.

 

Mataram-no à coronhada no dia 27 de janeiro de 1945 

quando era evidente que a guerra estava perdida para a Alemanha nazi e seus aliados.

No dia da libertação pelo Exército Vermelho do campo de concentração de Auschwitz

e hoje Dia Internacional das Vítimas do Holocausto.

Um dos muitos exemplos das tragédias húngaras do século XX.

 

Apesar de ser muito religioso - nascido judeu, mas católico convicto - 

o jovem Antal amou como se não houvesse nem um minuto a perder. 

Nem sempre foi bem-sucedido, mas tal não o fazia desistir. 

Com Klára, a segunda mulher, encontrou o seu próprio romance, 

Aquela que foi a sua companheira até ao último dia da sua vida. 

 

Excerto de um soneto escrito com 22 anos para uma colega de universidade.

Como ela não lhe correspondia, casou-se com a irmã 5 anos mais nova

(casaram e divorciaram-se 2 vezes).

 

A távolságot szeretem miköztünk. (...) 

 

Te meg én, világ két sarkából jövők, 

a testünk más – szőke a Te hajad, 

a vérünk más – az enyém nyugtalan 

s integetnek idegen jövők – 

a vágyunk mégis egyfelé halad

(Részlet: Violaine-szonett), 1923

 

Gosto da distância entre nós. (...)


Tu e eu, vindos de dois cantos do mundo,
os nossos corpos são diferentes - o teu cabelo é loiro,
o nosso sangue é diferente - o meu é inquieto

e acenam futuros estranhos -
mas o nosso desejo vai na mesma direção.

(Excerto: Soneto de Violaine), 1923

 

Permita-me a minha resposta, a minha interpretação:

Para sabermos dar valor ao preço da vida (do amor partilhado com a dor)

à ansiedade virtuosa de quando moramos na mesma casa

à exaltação da emoção quando dormimos na mesma cama

e à intensidade da sedução quando habitamos um no outro. 

 

No mundo das nossas vidas (da ternura partilhada com amargura)

a distância é o selo de garantia dos domingos do nosso Amor 

o certificado fugaz e provisório das frias manhãs e tarde perdidas 

dos cinzentos dias da semana em que nada mais acontece. 

 

Em nós a distância com desencontro e ausência, mas sem esquecimento 

é nosso refúgio, o melhor do nosso ninho, a flor da madrugada, a luz do luar. 

Para nós a distância é o caminho que nos leva ao teu, ao meu, ao nosso destino.

 

Szerb Antal foi uma das principais personalidades da literatura húngara do século XX. Nasceu em Budapeste a 1 de maio de 1901 numa família de judeus convertidos ao catolicismo. Com uma grande apetência para os idiomas rapidamente se destacou como escritor, tradutor e historiador da literatura. Estudou alemão e inglês na Universidade e obteve o doutoramento em 1924, com apenas 23 anos. Viveu em França, Itália e Inglaterra. Regressou em 1933 e foi eleito presidente da Academia de Literatura Húngara. Em 1937 tornou-se professor de literatura na Universidade de Szeged - ano em que publicou a sua obra mais famosa “Viajante à Luz da Lua”. 

Budapeste, 6 de março de 2025

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