quarta-feira, 19 de março de 2025

Éva élni akar (Éva quer viver) Em memória de Pajzs Elemér (1894-1944)

 

Éva élni akar (Éva quer viver)

Em memória de Pajzs Elemér (1894-1944)

 

A Éva desta história, ao telefone não parava de falar. 

Falava, falava e sorria dos seus lindos olhos escuros 

lanternas para os lábios finos e a sua boca bem feita. 

À volta todos sabiam sobre de que falava com a amiga. 

 

Para os curiosos, a história conta-se em um minuto.  

No sábado à noite tinha estado com colegas do trabalho 

a beber uns copos, alguns cocktails e sem se dar conta 

tinha-se deixado seduzir, na verdade tinha seduzido 

o empregado mais jeitoso do famoso bar em ruínas. 

Ia ter com ele. Há muito tempo que não estava tão feliz. 

 

Tinha um cabelo louro que chamava a atenção

e apesar da pouca luz, fim de tarde de um dia escuro

- ainda não tinham acendido as luzes do eléctrico -

via-se um rosto perfeito e umas sobrancelhas cuidadas.

 

As unhas arranjadas, discretas destacavam-se.  

Estavam pintadas de azul com tons de março 

mês que anuncia e desperta paixões ardentes.

Éva era a jovem mais bonita das viagens da semana

(mas também é verdade que era só segunda-feira). 

 

Seria Éva ou será que sem fui eu que inventei o nome  

à jovem e esbelta desconhecida sentada à minha frente? 

É porque nesse dia tinha estado a ler Pajzs Elemér. 

Um texto escrito há mais de cem anos e que não disfarça 

o erotismo natural de um askhenazi húngaro convertido.

 

Éva élni akar (Éva quer viver)

Talvez seja desejável. Sabeis isto, mãe.
Eu quero viver. Amar. O meu marido, se tiver um.
Ou outro homem... O meu sangue é quente... quente...
Peço desculpa mãe, por dizer estas coisas.
e se te zangares, deves perdoar-me, porque sou uma rapariga velha.

Velha. Vinte e oito anos. E o meu sangue é quente. A arder...
a arder, a fermentar como mosto. Eu quero amar...

Pajzs Elemér, 1912

 

Escritor que encontrei com as pesquisas e preparação 

do livro de homenagem aos dois diplomatas portugueses 

que em Budapeste em 1944 salvaram do holocausto 

a vida a cerca de mil judeus húngaros. Gente valente!

 

Pajzs Elemér, nascido Schön Elemér, escritor, jornalista, autor de peças de cabaré e tradutor literário. Judeu-húngaro convertido, foi um grande admirador de Salazar. Visitou e escreveu vários artigos sobre Portugal. É o autor do livro "Salazar: Egy kis ország nagy építője", 1942 (Salazar: O grande construtor de um pequeno país), mas nem a proteção portuguesa o salvou da morte. Em 1944, Elemér estava com a mulher e o único filho numa casa protegida da legação de Portugal e foram os três assassinados por milícias do partido nazi húngaro. 

 

Budapeste, 3 de março de 2025

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