Éva élni akar (Éva quer viver)
Em memória de Pajzs Elemér (1894-1944)
A Éva desta história, ao telefone não parava de falar.
Falava, falava e sorria dos seus lindos olhos escuros
lanternas para os lábios finos e a sua boca bem feita.
À volta todos sabiam sobre de que falava com a amiga.
Para os curiosos, a história conta-se em um minuto.
No sábado à noite tinha estado com colegas do trabalho
a beber uns copos, alguns cocktails e sem se dar conta
tinha-se deixado seduzir, na verdade tinha seduzido
o empregado mais jeitoso do famoso bar em ruínas.
Ia ter com ele. Há muito tempo que não estava tão
feliz.
Tinha um cabelo louro que chamava a atenção
e apesar da pouca luz, fim de tarde de um dia escuro
- ainda não tinham acendido as luzes do eléctrico -
via-se um rosto perfeito e umas sobrancelhas cuidadas.
As unhas arranjadas, discretas destacavam-se.
Estavam pintadas de azul com tons de março
mês que anuncia e desperta paixões ardentes.
Éva era a jovem mais bonita das viagens da semana
(mas também é verdade que era só segunda-feira).
Seria Éva ou será que sem fui eu que inventei o nome
à jovem e esbelta desconhecida sentada à minha frente?
É porque nesse dia tinha estado a ler Pajzs Elemér.
Um texto escrito há mais de cem anos e que não
disfarça
o erotismo natural de um askhenazi húngaro convertido.
Éva élni akar (Éva quer viver)
Talvez seja desejável. Sabeis isto, mãe.
Eu quero viver. Amar. O meu marido, se tiver um.
Ou outro homem... O meu sangue é quente... quente...
Peço desculpa mãe, por dizer estas coisas.
e se te zangares, deves perdoar-me, porque sou uma rapariga velha.
Velha. Vinte e oito anos. E o meu sangue é quente. A
arder...
a arder, a fermentar como mosto. Eu quero amar...
Pajzs Elemér, 1912
Escritor que encontrei com as pesquisas e preparação
do livro de homenagem aos dois diplomatas portugueses
que em Budapeste em 1944 salvaram do holocausto
a vida a cerca de mil judeus húngaros. Gente valente!
Pajzs Elemér, nascido Schön Elemér, escritor, jornalista,
autor de peças de cabaré e tradutor literário. Judeu-húngaro
convertido, foi um grande admirador de Salazar. Visitou e escreveu vários
artigos sobre Portugal. É o autor do livro "Salazar: Egy kis ország nagy
építője", 1942 (Salazar: O grande construtor de um pequeno país), mas nem
a proteção portuguesa o salvou da morte. Em 1944, Elemér estava com a mulher e
o único filho numa casa protegida da legação de Portugal e foram os três
assassinados por milícias do partido nazi húngaro.
Budapeste, 3 de março de 2025
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