quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Na varanda frente ao mar


“Tivesse ainda tempo e entregava-te

o coração”

(Em “A casa onde às vezes regresso”)

José Tolentino Mendonça, Cardeal e Poeta  

 

Em tempo de juntar o sumo ao sabor das palavras

a laranjeira abria os braços e fechava as janelas 

na cidade portuária com as famosas marginais

naquela primeira tarde de todas as nossas festas.

 

Com o que se apreendia na varanda frente ao mar 

fosse ou não fosse entre as sombras das laranjeiras

plantadas na continuação das longas avenidas

aquela era a hora certa para se começar a labutar.

 

O que se sabia não dava para enganar a inspiração 

nem para escorregar na pedra húmida do passeio 

mas para sentir nos dedos o perfume do vestido novo.

Madura, a laranja doce só se descascava à mão.


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