“Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração”
(Em “A casa onde às vezes regresso”)
José Tolentino Mendonça, Cardeal e Poeta
Em tempo de juntar o sumo ao sabor das palavras
a laranjeira abria os braços e fechava as janelas
na cidade portuária com as famosas marginais
naquela primeira tarde de todas as nossas festas.
Com o que se apreendia na varanda frente ao mar
fosse ou não fosse entre as sombras das laranjeiras
plantadas na continuação das longas avenidas
aquela era a hora certa para se começar a labutar.
O que se sabia não dava para enganar a inspiração
nem para escorregar na pedra húmida do passeio
mas para sentir nos dedos o perfume do vestido novo.
Madura, a laranja doce só se descascava à mão.

Sem comentários:
Enviar um comentário