Pode parecer um pensamento mal semeado
porque acalma a alma e distrai os remorsos
que estou a gozar com a má sorte dos outros
com pouca empatia com a pobreza dos pobres
com esse inferno diário de estar na rua a pedir.
Mas eu gostaria de dar voz ao sofrimento
que até um pedinte merece todo o cuidado
ter algum estilo no andar, melodia na voz
ter algum abandono nas rugas das mãos
um apagão permanente nos olhos do destino.
Dar e evitar tocar a mão de um pedinte na rua
é uma das formas asseadas de nos desviarmos
virarmos a cara e saltarmos por cima da miséria.
Desconversarmos usando as ideias mais vulgares
que é um problema que o estado tem de resolver
e não a caridade das pessoas com as suas esmolas.
Nem os pobres nem a pobreza vão acabar.
Dizia há cinquenta anos a minha mãe
- Filho sempre houve ricos e pobres
e sempre haverá, nunca vai mudar.
A minha velhota tinha toda a razão!

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