Poderei estar muito enganado, mas poesia
é também remexer os bolsos do passado
voltar a ler cartas antigas, alguns excertos
de quando ainda havia tempo e havia alma
para escrever, redigir cartas com memória.
Escrevi há muitos anos (Nazaré, agosto de 1983)
"Comecei - que sentido a poesia sem ti?
A secar o mar para encurtar a distância".
Agora para voar gostaria de me perder sozinho
por alguma das praias de Portugal, caminhar
na areia húmida e molhar os pés para despertar.
Ele, no seu acerto de contas com o presente
com devoção pensava, mas não escrevia
ter a certeza de que a partir do momento
em que ela passasse a ser a manhã e a tarde
a noite e a madrugada, o sol e a lua da sua vida
se iria fartar de tanta entrega, de tanta dedicação.
- Diz, se não foi essa a razão, qual foi
então?

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