sábado, 3 de dezembro de 2016

11. Noite da solidão



”Amor será dar de presente um ao outro a própria solidão?”
Clarice Lispector

Deitada sem se mexer descreve
a geologia húmida das nossas águas
o amanhecer adiado dos sentidos
a monotonia feliz de tardes sem mágoas.

Era primavera ou ficção minha papoila vermelha
havia um aroma que nunca antes tinha sentido
que escorria sem pressas pela inclinação do teu dorso
e que de olhos fechados parecia ter sabor a baunilha.

As beterrabas do açúcar castanho da adoração
que comia contigo nas sombras da alquimia
e que por minha culpa nunca mais encontrei
por entre as mãos das areias finas da poesia.
- As pernas redondas da última noite da solidão.



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